Feliz quem não quer mais da natureza
do que aquilo que ela lhe dá,
como o camponês,
que vive do instinto e da tradição agrícola,
que se satisfaz com o que o tempo lhe dá
alicerçado na intuição e na dedução.
Feliz quem se encanta
na observação da vida alheia,
vivendo um espetáculo virtual,
como o espectador de filmes
que vive da fantasia e, enquanto tal,
esquece a vida real.
Feliz quem renuncia a tudo e a quem,
porque a tudo renunciou,
nada se pode roubar,
como o eremita
que foge da vida e, enquanto não morre,
passa o tempo a dormir.
Todos abdicam
de parte da sua individualidade e,
porque o fazem, conscientemente ou não,
são mais facilmente felizes.
Para não falar dos pobres de espírito,
esses sim, são inconscientes mas felizes,
ou não fosse deles o reino dos céus…
© Jaime Portela, Junho de 2025