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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Alegrotes [635]

 


Surpreende-me a alegria

dos que não sabem que são infelizes.

O seu quotidiano,

em favelas ou palácios,

é inundado por tudo

o que compreenderia uma opressão

face a um sentir autêntico.

Sendo a sua vida aérea,

o que os devia fazer padecer

atravessa-os sem lhes beliscar o ânimo

e são como alguém com uma dorzita

a quem lhe saíram milhões num sorteio.

Possuem a fortuna da andança

de um viver inconsciente,

uma dádiva dos Deuses,

e são idênticos e elevados como Eles

no júbilo e no sofrimento.

Como eu gostava de ser como vós,

meus queridos alegrotes.

 

 

 

 

© Jaime Portela, Setembro de 2025


3 comentários:

Marta Vinhais disse...

Ou será para esquecer como a dor pode ser profunda?
Beijos e abraços
Marta

chica disse...

Há tantos e atntos alegrotes que teriam tudo para tristes andar e ficar... Linda poesia!
abraços praianos, chica

Anónimo disse...

Este poema desenvolve uma tensão interessante entre alegria e infelicidade — ele admira pessoas que “não sabem que são infelizes” e que vivem inconscientes dessa condição. Existe aí uma ironia comovente: essas pessoas “felizes” despertam espanto no eu‑poético, porque para ele parece evidente que há algo a ser sentido mais intensamente. Esse contraste entre o consciente e o inconsciente é poderoso, pois abre uma reflexão sobre a vida emocional autêntica.

Uma admiradora da sua poesia