Curvado sobre a terra
a fazer regos para que a água passe
e regue o milheiral na perfeição,
cavo com o jeito dos meus antepassados.
Ao mesmo tempo,
desço um rio bem largo e caudaloso
dentro de um barco a remos
evitando dragões que dormem nas margens.
E eis que salta uma rã aos meus pés
e um dragão cospe fogo
por cima das águas turvas do rio.
O susto e o desassossego misturam-se,
salto para o rego seguinte,
que ainda está seco,
e remo depressa para fugir ao dragão.
As duas coisas são claras como água
de uma fonte cristalina:
a terra molhada da enxurrada
que os meus pés descalços pisam
e a quilha do barco em terra seca
onde os remos proclamam
uma contínua chiadeira por falta de óleo.
Olho para trás e vejo que o milho
está a ser queimado pelos dragões.
O convés está cheio de gente,
a assistir, insegura e curiosa,
enquanto come pipocas e bebe coca-cola
a olhar para o espetáculo da fumarada.
© Jaime Portela, Setembro de 2025
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