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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Soldado de chumbo [634]

 


Os teus fios de joias distraídas

viram os teus lábios nos meus

sem celebrar o destino,

que seria despido

do perfume das rosas vermelhas.

Eram cravos negros sem esperança

que habitavam os teus olhos,

que sabias que eu sentia

nos teus beijos indecisos e sofridos.

Ainda assim,

longe das rosas e perto dos cravos,

o mar não existia nas cascatas do fascínio,

a água era algodão doce

desencrespada por sossegos.

E soube dos teus segredos e percebi

o soldado de chumbo na tua cascata,

numa perícia imóvel,

violenta e permanente,

mas não soube se era medo ou timidez

que inibia a denúncia

ou a fuga implantada nos teus sonhos.

 

 

© Jaime Portela, Setembro de 2025


44 comentários:

Dan André disse...

Bom dia, amigo poeta Jaime… que luxo triste esse teu “Soldado de Chumbo”. É como se tivesses mergulhado rosas vermelhas em um copo de absinto e depois servido o coração em cálice de estanho.

Os versos carregam essa estranha ternura que arde: o beijo indeciso, o mar que não se atreve a existir, o algodão-doce das águas e, no meio disso, um soldado imóvel, feito de medo e de silêncio. É poesia que olha o abismo sem piscar, e ainda assim se deixa tocar pela doçura. Se tivesse que resumir num só fôlego: tua poesia é a prova de que até chumbo pode aprender a dançar, ainda que seja uma dança imóvel, violenta e eterna. Assim, senti.

Abraços do amigo, Daniel
Boa semana !
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/09/circulo-de-nevoas.html

Daniela Silva disse...

Olá!
A tua escrita tem uma força delicada, cada imagem que crias faz pensar e sentir como se fosse uma memória guardada no coração.

Com carinho,
Daniela Silva ♡
alma-leveblog.blogspot.com — espero pela tua visita no meu blog!

Andre Mansim disse...

Bom dia, poeta!
Que poema forte e triste, sem deixar de ser belo.
Cravos negros, sem esperança, que habitam os olhos...
Dessa vez sua inspiração foi tensa.
Mas como sempre, suas metáforas são muito bem pensadas.

Um abraço!!
Tenha uma linda semana.

silvia de angelis disse...

Un testo intenso e visionario, che intreccia simboli floreali e immagini fiabesche per raccontare un amore sospeso tra attrazione e fragilità.
Buona settimana

Graça Pires disse...

A fuga implantada nos teu sonhos é esse soldado de chumbo feito de silêncio timidez e denúncia. Um poema intenso.
Uma boa semana.
Um beijo.

ematejoca disse...

Os “fios de jóias distraídas” e “cravos negros” sugerem uma estética de luxo e peso emocional, enquanto “rosas vermelhas” simbolizam paixão e romance. O contraste entre cores intensifica a tensão entre atração e perigo. Movimento entre proximidade e distância: há uma oscilação entre o desejo (beijos, perto dos cravos) e a evasão (fugacidade do destino, segredo não revelado). A descrição do mar “não existia nas cascatas do fascínio” aponta para uma ilusão de plenitude que não se materializa. As expressões como “beijos indecisos e sofridos” revelam vulnerabilidade do eu lírico diante do outro. O “soldado de chumbo” na cascata sugere um núcleo duro, uma resistência ou peso emocional que bloqueia a revelação. Não fica claro se o medo é do amor, da rejeição ou da própria verdade. A “fuga implantada nos teus sonhos” indica que o outro pode ter uma defesa enraizada, dificultando a honestidade. O poema alterna entre frases longas e pausas, criando uma cadência contemplativa que acompanha a introspectiva sobre segredo e percepção. O segredo, desejo não correspondido, memória de uma paixão que não se consolida, a ideia de que a percepção do outro pode ser tão estável quanto perigosa.

O outono 🍂 está a dar de avanço.
Chega à Alemanha às 20,19 horas.
Um abraço quase outonal 🍂 com um sol pálido e frio.

Roselia Bezerra disse...

Olá, amigo Jaime!
Uau!
Um espetacular poema intenso e num encontro fecundo do cravo e da rosa que devem ter sido felizes para sempre, mesmo com tantos traumas e timidez...
Lindíssima descrição de um encontro de dois corações!
Tenha um Outono abençoado!
Abraços fraternos

Lucimar da Silva Moreira disse...

O poema trás uma reflexão sobre a complexidade dos sofrimentos e a dor que se esconde por trás das aparências. Um magnífico poema Jaime abraços.

Momentos disse...

Jaime, hermoso y triste poema.
Es una delicia leerte.
Maravilloso
Besos

AMALIA disse...

Magnífico poema!.
Muy hermoso.
Feliz semana.
Un abrazo.

chica disse...

Intensidade e beleza que encantados percorremos a leitura em cada verso! LINDA!
abraços praianos, chica

Emília Simões disse...

Boa tarde Jaime.,
Um poema belo e profundo denotando alguma desilusão.
Por vezes, na vida, há condicionantes que estrangulam o que poderia ser um grande amor.
Essa figura aqui representada pelo soldado de chumbo. Será?
Beijinhos e uma boa semana.
Emília

PAULO TAMBURRO. disse...

E no meu blog "Humor em textos e outros textos sem nenhum humor" levo para Brasília a lenda do boto cor-de-rosa, das regiões ribeirinhas da Amazônia e tento explicar as verdades de uma lenda com a canalhice mentirosa dos políticos que por lá povoam!
Um abração carioca.

Mário Margaride disse...

Uma beleza de poema aqui partilha, amigo Jaime.
Onde o lirismo traduz a intensidade do sentir e das emoções.

Gostei bastante, amigo poeta.

Abraço de amizade, e boa semana!

Mário Margaride

Adriana Helena disse...

Olá Jaime, sempre é muito bom poder conhecer o melhor da poesia em seu blog.
Você é muito competente em delinear as letras, as metáforas por trás de cada verso...
Eu achei o poema muito bonito, um pouco sombrio, com a designação dos cravos negros, mas também esperançosa quando encontrei "algodão doce".
Agradeço por compartilhar conosco essa dádiva!
Aproveito para desejar um ótimo ingresso no outono para você, já eu comemoro a primavera!
Linda e especial semana! :)))

Anónimo disse...

Este poema é bastante rico em imagens e sentimentos, e parece-me que há elementos que apontam para a violência doméstica ou, pelo menos, para uma relação marcada por opressão emocional, medo, silêncio. Vou expor o que acho, os indícios, mas também o que permanece ambíguo, porque o poema não confirma tudo de forma explícita.
Trechos relevantes que sugerem opressão / violência silenciosa: alguns versos que me chamaram a atenção nesse sentido:
"Soldado de chumbo" sugere algo pesado, rígido, opressivo, metáfora para uma presença autoritária ou uma força que pesa sobre quem fala ou quem é alvo.
"Violenta e permanente" indica que essa presença ou estado não é momentâneo — é algo contínuo, parte da existência do sujeito (“permanente”) e causador de sofrimento (“violenta”).
A inibição de denúncia ou fuga pelo medo ou timidez sugere que há alguma opressão que não pode ser confrontada ou escapada livremente, por culpa do medo ou fragilidade, ou talvez por dependência. Isso encaixa com dinâmicas típicas de violência doméstica: abuso psicológico, emocional, manipulação,
“cravos negros sem esperança que habitavam os teus olhos” — a imagem de escuridão, de sofrimento interior, de algo que persiste (“habitavam”).
“beijos indecisos e sofridos” — não há liberdade plena nos gestos do carinho, há hesitação, dor.
A oposição entre rosas vermelhas / perfume / desejo, e cravos negros / desespero / silêncio estabelece um contraste entre o que poderia ser amor, beleza, entrega, e o que realmente acontece — sombras, dor, contenção.
A fala de “fuga implantada nos teus sonhos” sugere que até mesmo no espaço íntimo do sujeito (nos seus sonhos) há desejo de fuga, mas é algo interno, latente, talvez suprimido.
Embora haja muitos indícios, o poema não descreve uma agressão física concreta, nem identifica claramente uma figura externa ou autor direto da violência:
Não se fala de violência física de forma patente, nem de agressões com ferimentos. A ênfase parece estar mais no psicológico / emocional / intimidação / silêncio.
Também não se sabe quem é o “soldado de chumbo” em sentido literal — se é uma pessoa, se é um estado psicológico, se é uma metáfora para traumas internos ou pressões exteriores.
O sujeito que fala parece ter conhecimento dos segredos da outra pessoa (“soube dos teus segredos”) mas não controla totalmente ou não interfere diretamente — há o ver, perceber, mas não o agir.
Interpretação possível:
Parece-me que o poema aborda a dor invisível de uma pessoa (uma mulher, possivelmente, embora o género não seja afirmado explicitamente) que vive sob uma opressão contínua, marcada por silêncio, medo, possivelmente humilhação ou frustração, talvez abuso psicológico. Essa opressão não se manifesta necessariamente em gestos terríveis e óbvios, mas no quotidiano: nos beijos “sofridos”, na indecisão, no peso permanente (“soldado de chumbo”) que paralisa, que impede o florescer, o celebrar do “destino” ou do amor.
O silêncio (“inibição da denúncia”), a timidez ou o medo, e a ideia de fuga que está nos sonhos — tudo isso sugere que há uma pessoa que sofre em privado, que não se expressa, ou que não consegue romper com a dinâmica opressiva.

Uma admiradora silenciosa da sua poesia

Teresa Isabel SIlva disse...

Como habitual, é um prazer ler as suas palavras!

Bjxxx,
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la plume d'Eden disse...

Boa noite, caro poeta.

Adorei seu poema.
Ele me falou como um buquê secreto, onde cada flor revelava a alma de suas palavras.

Tenha uma boa semana.
Com toda a minha admiração poética.
Beijos.
Véronique.

J.P. Alexander disse...

Profundo poema. Me gusto mucho Te mando un beso.

Malania Nashki disse...

Encontré metáforas en tu bello poema. A veces el poeta escribe de esa manera para dar a entender a cada lector lo que la imaginación le depara.
Buenas noches estimado Jaime.
Un abrazo.

Anna Lucia P Gadelha disse...

Poema sensível e intenso, com imagens marcantes e bem construídas. A fusão entre emoção e metáfora revela uma escrita madura, capaz de provocar reflexão e sentimento num só fôlego. Magnífico!! Beijos

TORO SALVAJE disse...

Me temo que la traducción automática me impide llegar al fondo del poema.
Lo he intentado en portugués y mejor pero hay partes del poema que se me escapan.
Eso sí, la tristeza del poema es conmovedora.
Saludos.

Juvenal Nunes disse...

Há sempre o risco de ser submerso pelas águas.
Desejo uma boa semana.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

São disse...

Um poema cuja tristeza nos toca fundo.

Meu amigo, te abraço.

Ana Tapadas disse...

Velada e erudita poesia lavras, meu poeta!
Parabéns por este poema e pela sua profundidade significante!
Um beijinho

Maria Rodrigues disse...

Profundo, nostálgico e sentido poema.
Beijinhos e uma excelente semana

Eduardo Medeiros disse...

Olá, Jaime.

Teu poema é intenso com imagens belíssimas. Deixar os segredos escondidos? A cascata ferida pelo chumbo? Fuga da realidade sem celebração de destinos?
Quanta coisa cabe num poema como esse!

Lucia disse...

Olá caro Jaime.
Ainda que seja triste, ele continua belo.
Muito bom amigo poeta.
Boa semana.
Beijo!

brancas nuvens negras disse...

O tempo pode regenerar os sentidos e mudar as coisas.
Um abraço.

Bandys disse...

Olá Jaime,
Sempre intenso e muito profundo.
Ainda que triste sempre há uma esperança
de que a lagrima é o ultimo suspiro do amor,
feliz dia
beijos

Os olhares da Gracinha! disse...

Medo e timidez por certo em simultâneo!
👏👏👏😘

Olinda Melo disse...

Olá, caro Jaime
Poema estuante de vida ainda que não seja aquela
que normalmente esperamos.
O soldado de chumbo pesa nos corações que
ousam celebrar a profundidade do sentir humano.
Desilusões e algo amargo vêm envoltos nas flores
que recebemos e que também oferecemos.
Boa semana, amigo Jaime.
Abraço
Olinda

Sonya Azevedo disse...

Bom dia, Jaime, uma poesia magnífica com seu estilo marcante de descrever os mais profundos sentires em meio as tão bem criadas metáforas. Luz e paz. Beijo

Marli Soares Borges disse...

Maravilha de poema, Jaime!
No fundo, são as máscaras que não nos permitem vivenciar a realidade.
Bjsssss, Marli

Fá menor disse...

Um poema um tanto sofrido, na complexidade das relações, em que nem sempre há sintonia.

Beijinhos, amigo Jaime.
Tudo de bom!

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime.
Passando por aqui, para desejar um feliz fim de semana, com tudo de bom.
Abraço de amizade

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

SOL da Esteva disse...

Metaforicamente, este teu Poema descreve o sentir humano, como se fora o Soldadinho de chumbo, pesado e frio.
A vida não reconhece o viver.
Excelente. Parabéns, Jaime.


Abraço,
SOL da Esteva

JoAnna disse...

Bom dia! Bem-vindo de volta depois de uma longa pausa. Encontro sempre bons poemas no seu blog. Tenha um bom fim de semana e um belo outono. Abraços.

Rakel disse...

Ciao, versi introspettivi dove ogni sofferenza e dolore viene celato
dall'apparire.
Buon fine settimana
Rachele

Olavo Marques disse...

Olá talentoso Jaime! Um poema intenso, como habitual! Entre a "delicadeza" das imagens e a "dureza" do "soldado de chumbo", fica a sensação de um amor contido, preso entre o medo e a entrega. Belíssimo poema! Forte abraço! 🤗

Isa Sá disse...

Bonito poema.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Catiahô do Espelhando disse...

Jaime,
É sempre uma alegria vir
aqui e ler seus versos.
Muitas vezes nós é que
precisamos ser de chumbo
para enfrentar as questões do dia
a dia e como Poetas, nos acham
seres frágeis. Somos na verdade
o que precisarmos ser.
Bjins de gratidão por seus
versos que inspiram a todos
que por aqui leem.
CatiahôAlc.

Mário Margaride disse...

Boa noite, amigo Jaime.
Passando por aqui, para desejar uma feliz semana, com tudo de bom.
Abraço de amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

rosa-branca disse...

Um poema com alguma nostagia, que adorei Jaime, boa semana e beijos com carinho