Passei ao lado
das florestas de embondeiros,
das vastidões de capim
e da negra irritação dos indígenas,
tal como da brancura do medo às catanas
e aos relâmpagos da razão capital.
Involuntário,
devolvi à nascente o esplendor maternal
das noites de paz,
que só terminavam com o café matinal
a inundar a urgência de apanhar o comboio
em andamento totalitário,
de maquinistas com o poder único
[mas de faúlhas ingénuas…]
de apitarem amordaçados pelo regime.
O vapor,
escuro e ruidoso,
foi-se tornando uma lembrança
de bancos de pau e carvão,
mas não fugi do berço
onde, em liberdade, a palavra primitiva
é a manteiga do motivo
ou o sal da ideia,
a procedência que nos faz reproduzir
ou escorregar
na língua do sonho.
Até que cheguei aqui
[já global…],
onde as asas das borboletas,
russas, chinesas ou norte coreanas,
provocam tempestades totalitárias,
onde já não podemos fugir à irritação
de outros indígenas, sem embondeiros,
sem acácias
e sem a razão,
mas com a força das armas.
© Jaime
Portela, Outubro de 2022
37 comentários:
Perfeito! Temos artista :)
Um feliz dia
Uma chamada de atenção fundamental
Boa tarde Jaime,
Um poema muito inspirado em que as metáforas plenas de significado nos proporcionam um belo poema muito bem construído.
Um beijinho e um ótimo dia.
Ailime
Jaime
a história contada e sentida de maneira poderosa
Uma experiência singular.
Um abraço.
Uma forma outra de se abordar a História. E aqui chegados é o que se sabe. Mais importante ainda é o que não se sabe e que se esconde dos olhos dos inocentes quando as guerras se eternizam.
Continuação de boa semana, Jaime.
Abraço
Olinda
Uma ponte feita de memórias e de sonhos esquecidos, amordaçados...
Brilhante
Beijos e abraços
Marta
Un testo molto originale, nelle preziose e inedite immagini che presenta al lettore.
Un caro saluto,silvia
Infelizmente, amigo Jaime, a única palavra vigente nos tempos actuais- tal como dantes - , reside na força das armas.
Poucos foram os mancebos que nos anos sessenta "serviam a Pátria" e escaparam à violência das catanas.
Alguns, passaram ao lado da irritação dos indígenas, ficando pelo ronronar dos velhos comboios, até à próxima volta ao aconchego do Lar.
O meu irmão não escapou...regressou com vida, mas morto para a vida.
Beijo amigo.
Excedente poema! Obrigada pela partilha!
-
Sinto o murmurar dum silêncio desejado
.
Beijo, boa tarde!
Muito muito muito bom este poema bomba limpa. Que os embondeiros, com a sua resistência, nos inspirem!
Abraço forte!
Un panorama triste en tu bella poesía, Jaime
Abrazo
No sé si se ha perdido mi comentario
Otro abrazo
Lindíssimo poema. Adorei
Beijinhos
Muy buen poema Jaime, felicitaciones.
mariarosa
um belo e forte poema , meu amigo Jaime
grande abraço
A história ensina e os homens não aprendem. Suas memórias caminharam até uma doída realidade, mas você harmonizou seu desconforto com um lindo poema, Jaime. Abraço.
Profundo poema , los recuerdos tristes nos atormenta. Te mando un beso.
Intenso, sagaz e brilhante!
Querido Amigo Jaime parabéns pelo estrondoso talento!
Desejo-lhe um excelente fim-de-semana!
Beijinhos
Um poema fantástico. Um grito de revolta, pelo estado em que o mundo se encontra, envolto numa guerra violenta sem fim à vista.
Gostei muito. Parabéns, caro amigo Jaime!
Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Infelizmente as armas continuam a ser uma força que ninguém consegue parar.
Um bom fim de semana, meu Amigo Jaime.
Um beijo.
Intenso, profundo, poderoso, brilhante. Gostei muito de ler
.
Feliz fim de semana.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Boa tarde JP
uma maneira criativa de escrever poesia
com palavras delicadas a falar sobre o panorama da guerra
um grito subtil e no entanto com bastante intensidade.
bom fim-de-semana com saúde.
:)
Los pueblos que fueron dominados y casi exterminados claro que no olvidan , pero en este tiempo regar con más sangre el suelo que reclaman no se si ello les aporta mayor dignidad , valor o justicia...el hombre siempre ha repetido sus errores y lo que es peor se los hereda a sus hijos que ya de porsi volverán a llevar sobre sus hombros el dolor y el estigma.
Buen fin de semana.
A realidade atual, fria e cruel transposta para a poesia.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Parabéns Jaime pelo fantástico poema.
Bom fim-de-semana
Bj
Um poema sublime e tão pertinente para os tempos nebulosos que atravessamos.
Bom fim de semana
Beijinhos
Os totalitarismos não conhecem cores nem credos.
O mundo em que vivemos ainda está longe de poder corresponder aos esforços de muitos.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes
Poema de intervenção, perfeito.
Que as Guerras, quentes ou frias, se desvaneçam e deixem que a Paz inunde as terras e as Almas.
Te felicito, Jaime.Também nos toca (ou tocou) em parte.
Abraço
SOL da Esteva
Um abraço forte e solidário das margens do rio Reno como um elogio subtil a tão poderoso POEMA.
As metáforas usadas são de uma intensidade incrível.
Bem pertinente seu poema de hoje!👏👏👏...bom domingo
Os embondeiros são árvores solitárias das savanas!!
Fecunda criatividade em excelente e forte mensagem.
Gostei de te ler, Jaime.
Bom fim de semana. Abraço amigo.
~~~~~
Muito bem colocado e tão bem conseguido este poema que, para mim e outros que fizeram percurso idêntico, se veem de novo com o cenário agonizante da guerra, da intransigência, intolerância, repetindo-se ciclicamente os mesmos erros crassos.
Kandando!
grande abraço, Jaime Portela
gostei muito do poema. ecepcional....
Poderoso!
O que ontem nos era mote, hoje o mundo virou trote.
Beijinhos, amigo Jaime! Sempre inspirado e inspirador.
Infelizmente é mais o barulho das guerras , que nos rodeia.
É preciso que seja a música da paz a encher os nossos dias.
Belo e inspirador.
Gostei muito.
Abraço e brisas doces **
Um poema fantástico... que apoiado em belas analogias, tão bem descreveu as tristes realidades, em que estamos mergulhados... e nem sabemos mais como evitar... se houver um doido a premir um botão... ou um teste de novas borboletas, que corra mal... e cada vez mais, parece que estamos a beira disso mesmo... dum tremendo vespeiro, sem mais razão, nem ordem... de vespas asiáticas... ou de leste...
Um beijinho
Ana
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