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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A parca intolerância à pobreza [576]

 


O lar era de pedra, de pedra tão incerta

que estava semeado de janelas.

Sempre abertas, não havia outras.

O vento entrava e saía como um turista.

 

A terra batida era o chão do casebre,

sem divisões, um “open space” onde a pobreza

se partilhava alegre entre a lareira

e as enxergas coletivas multiusos.

 

Já os filhos eram tantos

que lhes trocavam os nomes, quando a gravidez

bateu de novo à porta sem tranca da mãe.

Mas diziam que num lar feliz

teria de haver pão e vinho, que raramente tinham,

e bafo de menino, que havia em abundância.

 

Depois das dores, a surpresa de dois gémeos.

Inventaram uns paninhos, umas camisas,

irreconhecíveis, rasgaram tudo aos pares.

e sobreveio um seio para cada um dos nascidos.

 

A pobreza não é admissível para sempre,

mas nascem mais pobres no mundo

do que a nossa parca intolerância abarca.

 

 

 

© Jaime Portela, Setembro de 2024


35 comentários:

Pedro Coimbra disse...

E infelizmente os casais mais pobres são estatisticamente os que têm mais filhos.
Não era aí que devia intervir a Segurança Social?
Com apoios financeiros, alimentares, escolares?
Um abraço, boa semana

chica disse...

Infelizmente a pobreza está aí para quem a quiser ver... Pena e tantos ,são à ela e seus efeitos indiferentes. Linda poesia! abraços, chica

Graça Pires disse...

Quanta sensibilidade, meu Amigo Jaime, neste poema que escreve sobre a pobreza. Infelizmente há demasiada gente abaixo daquilo que necessita. E há pouca solidariedade neste nosso mundo. Tudo de bom para si.
Uma boa semana.
Um beijo.

São disse...

E em consequência de guerras brutais e sem sentido a pobreza e o sofrimento aumentam, desmesuradamente !

Meu querido amigo, beijinho de boa semana e estupendo Setembro.

Mário Margaride disse...

É verdade. Há muita intolerância à pobreza. Ainda vivemos numa bolha de snobismo bacoco e da mania das grandezas. E muitos daqueles que não toleram a pobreza, são os mesmos que tendo a mania das grandezas, se afogam em créditos bancários para ir passar férias para a estranja.
Enfim..
Excelente poema. Onde toca numa ferida bem aberta entre nós, amigo Jaime, a pobreza.
Votos de uma boa semana, com muita saúde e paz.
Abraço amigo.

Mário Margaride

Mona Lisa disse...

Belíssimo poema que foca um grave e actual problema chamado : (Pobreza Extrema), Sendo esta, olhada com desdém!
Beijinho. 😘

Marta Vinhais disse...

A pobreza bem retratada num poema sublime....
Beijos e abraços
Marta

Roselia Bezerra disse...

Olá, amigo Jaime!
"Diziam que num lar feliz
teria de haver pão e vinho".
Infelizmente não é bem assim que tem acontecido.
Infelizmente...
Que haja pão em todas as mesas!
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos de paz

ematejoca disse...

Provavelmente, não temos a mesma posição política, meu amigo poeta, no entanto a sua poesia é muito importante para mim, porque o Jaime toca com as suas ideias a ferida da sociedade mundial.

Uma familiar portuguesa com apenas uma filha, dizia cinicamente que as mulheres pobres não tinham dinheiro para ir ao teatro daí a filharada. Eu digo que a igreja católica é a culpada. Assim como a ignorância.

Abraço da amiga que o admira pela lucidez da sua escrita — tanto na POESIA como nos comentários.

ematejoca disse...

Eu diria que informação era o mais importante.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Um poema muito sensível, retratando a pobreza pura, que é tantas vezes ignorada por quem não devia ignorar.
Comoveu-me, muito...
Boa semana.
:)

Tais Luso de Carvalho disse...

E, em meio a essa pobreza em demasia, vemos tanta soberba,
tantos de mãos cruzadas e de bolsos cheios... E outros tantos nada enxergam...ou fazem que não enxergam.
Excelente, amigo Jaime!
Uma boa semana e um feliz setembro.
Beijo, amigo.

Silent Movie - ©Theda Bara disse...

Life's misfortunes make people stronger, and poorer families suffer more, and so social inequalities persist, but they do not make them give up on winning the eternal fight between David and Goliath.
(ꈍᴗꈍ) Poetic and cinematic greetings.

Janita disse...

Essa pobreza aqui retratada parece vir do início do século XX, Jaime. Quando não havia informação nem apoios da Segurança Social, na contracepção. Hoje em dia com subsídios estatais até para quem nunca descontou, creio haver mais controlo sobre a natalidade. É ver como os casais, sejam mais ou menos desafogados financeiramente, não têm mais do que dois ou três filhos.
Poesia é poesia, não tem tempo nem Era.
Admiro muito a capacidade do Poeta para focar assuntos tão pertinentes, quão importantes, nas sociedades de todos os tempos.

Um beijinho e boa semana

Lucia disse...

Olá caro Jaime.
Um belo poema
Desabafo e tristeza
Realmente amigo poeta
Quanta pobreza
Quanta indiferença.
Boa semana pra você.
Beijo!

J.P. Alexander disse...

Profundo poema. El problema es que no hacemos nada y nis hacemos indiferentes. Te mando un beso

brancas nuvens negras disse...

Vivemos num país com um terço da população no limiar da pobreza.
Poema oportuno.
Um abraço

Ana Tapadas disse...

Belo poema, urdido de uma memória antiga e tão real que deveria ser inadmissível no presente...mas sabemos que ainda ex amigoiste, talvez vestida de outras cores.
Um abraço

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá caro amigo Jaime,
a sensibilidade do poeta pelos problemas sociais foi
o resultado deste profundo poema, sensibilidade e talento
unidos, resultaram nesta obra de grande valor poético!
Meus parabéns, amigo Jaime!
Votos de uma ótima semana e um feliz setembro.
Grande abraço.

AMALIA disse...

Aquí estoy de nuevo para disfrutar de tus bellos poemas.
Te deseo un feliz mes de Septiembre.
Un abrazo.

Andre Mansim disse...

Um tema triste, mas brilhantemente expressado em seu poema.
Aplausos!

Olinda Melo disse...

Um problema que se manifesta nas sociedades
de uma forma ou de outra. A intolerância é o que
mais se vê e o retrato que faz deste mundo que
caminha a passos largos para um não-retorno
é mais real do que se imagina.
Tenha um boa semana, amigo Jaime.
Abraço
Abraço
Olinda

Olavo Marques disse...

Olá talentoso Jaime!

Um poema que muita gente deveria ler para "abrir os olhos".

Fê-lo de forma sábia e exímia! Gostei muito! 👏🏻

Abraços e uma boa semana para si.

Majo Dutra disse...

Remete-me aos relstos de Abr

Alves Redol e Miguel Torga nos seus primeiros anos de clínica, porém, acredito que há muitas pessoas que nunca ouviram falar do "Plano Familiar"...
No mundo, há realmente muita pobreza.e só nos resta lamentar...
Um tema social pertinente e infelizmente sempre atual, muito bem colocado e poetizado.
Abraço, Poeta amigo
===

Ane disse...

Infelizmente essa é a realidade, as mulheres mais pobres tem dificuldade em acessar os serviços de saúde,fazer planejamento familiar, tomar anticoncepcional...os pobres filhos terão uma vida difícil, é dramático!Um abraço!

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime
Passando por aqui, para desejar um feliz fim de semana.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

JoAnna disse...

É bom que existam poetas que discutem temas socialmente importantes em seus grandes poemas... Saudações, amigo, obrigado por este poema.

Meulen disse...

La peor pobreza es la espiritual y de ahí viene todo el dolor que se padece a diario pero comprender en su magnitud eso, es duro y muchas veces o más de las veces es más fácil acusar a otros de nuestra propia inoperancia...
Saludos poeta.

lis disse...

De fato, Jaime é inadmissível e na verdade tão comum que nem mais nos indignamos. Poderia ser atenuado se fossemos todos mais humanos, mais inteligentes, mais poderosos. No entanto,os poderosos é que mandam e a gente obedece. E a pobreza só cresce a cada dia , junto com o preço do pãozinho.. Um desigualdade dificil de falar a respeito.
Seu poema é forte e delicado ao mesmo tempo. Não temos como reagir e como desacelerar isso .
Fica o beijo e desejos de bom sábado.

SOL da Esteva disse...

Há riqueza entre os pobres que os mais abastados não conseguem alcançar: a alegria espontânea mesmo diante de tantas carências.
Mas o teu Poema é forte e denunciador das grandes diferenças económicas da nossa sociedade, pelo que o classifico muito positivamente.
Denunciar a injustiça é um dever moral.
Gostei desta tua intervenção, Jaime.

Abraço amigo,
SOL da Esteva

Fá menor disse...

Triste constatação!
Mas agora a pobreza é de outros níveis. Assim nos querem.

Beijinhos e bom fim-de-semana!

JoAnna disse...

Olá Jaime, voltei para ler seu poema porque fiquei muito emocionado com esses versos. Atenciosamente, tenha uma boa nova semana. Estou esperando o próximo poema.

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Jaime!!!
Seus versos são tocantes
e como sei bem o que
é viver na pobreza,
pois por um tempo
na minha infância conheci
de perto a falta do basico,
pois éramos 6 irmãos em
uma vida muito difícil.
Mas passou e sobrevivemos
todos.
Poesia pra mim Jaime,
é esse fator revelador de almas,
da alma da gente e de gente.
Sou grata por sua
inspiração compartilhada aqui
no seus escritos.
Bjins de ótima nova
semana.
CatiahoAlc.

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime,
Passando por aqui, para desejar uma boa semana, com tudo de bom.
Abraço amigo.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Malania Nashki disse...

Es lamentable que traigan niños al mundo sin pensar en su futuro.
Nadie educa a los adolescentes sobre el tema. Y es verdad lo que escribió un lector, que los más pobres son los que más niños tienen.
Un abrazo desde Argentina.
https://cupoleno.com/