Translater

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A indiferença da pele [638]

 


Se moras nos subúrbios da vida

e sonhas na floresta das tuas fantasias,

ao teu remanso verde,

por certo imaturo,

nem os rumores dos teus gestos se mostram.

Se repousas nos teus sonhos

como se fossem searas imensas,

dos cálices da tua renúncia

apenas ingeres o choro de falsa viuvez

e nem vês os comboios que passam por ti.

Então, os dias claros,

o céu limpo sem nuvens

e o piano que espera as tuas mãos,

num bucolismo ausente do som

do alvoroço polifónico da vida,

têm o paladar insípido do que não possuis.

E tudo não passa

de uma flauta mágica, mas silenciosa,

por onde passas repetidamente

a indiferença da pele a caminho do nada.

 

 

© Jaime Portela, Outubro de 2025


17 comentários:

São disse...

A indiferença é a pior das coisas, penso eu.

Meu amigo, abraço e excelente resto de Outubro.

Emília Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniela Silva disse...

Que poema intenso e profundamente sensível 🌿 A forma como abordas a “indiferença da pele” é um grito silencioso sobre o que se sente e o que se esconde. As tuas palavras tocam e fazem pensar, com a força de quem sabe olhar além da superfície.
Com carinho, Daniela Silva 💜
alma-leveblog.blogspot.com
Convido-te a visitar o meu espaço de escrita 🌷

Olavo Marques disse...

Olá talentoso Jaime! É mais um magnífico poema que fala de quem vive preso entre o sonho e o desânimo. Uma quietude triste, quase resignada! Um forte abraço para si 🤗

Mário Margaride disse...

Olá, amigo Jaime.
Nada mais doloroso e desolador do que a indiferença.
E este poema, retrata de forma soberba esse sentimento.

Gostei bastante.

Abraço e boa semana!

Mário Margaride

Graça Pires disse...

"Que a vida nunca me pareça um lugar indiferente" escreveu José Tolentino Mendonça. É o que devemos fazer. Nunca ficar indiferentes perante a vida e viver cada dia como se fosse o único.
Um poema inspirado e inspirador.
Um beijo.

Marta Vinhais disse...

A indiferença... porque o nada assusta-nos... e temos que ser nós a lutar e a construir a partir desse nada...
Beijos e abraços
Marta

Jovem Jornalista disse...

Arrasou nos versinhos.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia

Andre Mansim disse...

Amigo poeta.
Esse seu poema pode ter várias interpretações, porque trás muitas imagens difrentes.
Comecei com imagens tranquilas de sonhos e pensamentos que quero parar minha vida e terminei com a perturbação da diferença da pele.
Muito bom, como todos que você escreve.

ematejoca disse...

Poema num tom melancólico e introspectivo, explorando a distância entre o mundo interior do eu lírico e a vida ao redor. A “flauta mágica” que passa a indiferença da pele em direcção ao nada funciona como uma metáfora da vida que oferece uma promessa encantada, mas que, na prática, não toca nem transforma. O poema pinta um retrato de descolamento entre o impulso criativo sonhador e a realidade que o sufoca, mantendo um tom de lirismo triste e contido.

Abraço da amiga que como o piano espera o céu claro sem nuvens ⛅️

AMALIA disse...

Muy reflexivo y bello poema.
Invita a meditar.
Feliz semana.
Un abrazo.

Arthur Claro disse...

Linda poesia, meus parabéns.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, amigo Jaime!
A indiferença mata... aos poucos, tudo termina no lixo do viver.
A 'pele' se resseca pela falta de diferenciação dos demais...
Excelente poema!
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos

Eros de Passagem disse...

É verdade, Jaime, um áspero deserto, aqui chamado de indiferença, pulsa diante de nós, e como dói.
Obrigado por este poema bem concebido!
Um grande abraço, poeta!

silvia de angelis disse...

Un cantico introspettivo notevole, che induce a profonde riflessioni.
Buona settimana

brancas nuvens negras disse...

E que bom é viver em estado de imaginação.
Boa semana.
Um abraço.

Emília Pinto disse...

E nos subúrbios vivem tantos, amontoados em barracos, sonhando que um dia dali sairão . Sonham, lutam e rezam, mas ninguém os ouve , nem os homens, nem os deuses. Pelo menos, ali, é indiferente a cor da pele, a religião que professam, o tipo de trabalho que fazem; são todos iguais na indiferença a que são votados...
Se a cor da pele fosse diferente.....se não fizessem as suas orações em mesquitas...se não usassem véus, as mulheres, turbantes na cabeça, alguns homens...se...se...e se...
Tantos " Ses " e tanta " imposturice " no nosso pais. Amigo Jaime...
Não os queremos neste " cantinho de brandos costumes ", mas não os dispensamos em nossas casas, nas nossas indústrias, nos nossos campos, valorizando muito pouco o trabalho que fazem, trabalho esse que nós não queremos fazer.
Sabes, Jaime, o teu poema pode ter diferentes interpretações, mas, eu, escolhi esta e porquê? Porque choca-me as atitudes que têm, não só os nossos governantes, mas também o povo, em relação àqueles que escolhem o nosso país para terem uma melhor qualidade de vida, nós, portugueses, que tivemos de abalar para outras bandas, procurando o mesmo. É incompreensível...
Amigo, uma boa semana e saúde sempre,
Beijinho
Emília 🌻 🌻