(Poema de homenagem a colegas e amigosque morreram ainda novos, nomeadamenteo Zé Ferreira, o Hugo Vieira, o Fernando Silva e o Arnaldo Rigueiro)
Rezo-Te.Mas temo a recusa nas Tuas palavrassem rasto nem recurso.Não enxotas o gato preto da janela.Ajoelho-me, redobrado.Fico imóvel no escuro, na Tua luz.Falo-Te, submisso, sem respirar,até pintar o Teu rosto na retina.Medito nas searase nos vinhedos a crescer nas Tuas mãos.Esgano a fome e a sedena visão dos Teus frutos maduros, divinos.Acaricio cada grão, cada bago,de um rosário votado ao desespero.Esperançado, imploro-Te.Vejo mosto e massa com fermentoà Tua mesa. Na minha cabeça,o sino a finados a prensar badaladas.Não brotou a cura do Teu pãonem a mão protectora do Teu vinho.Permitiste que morressem. Impassível.Deixo-Te, deserto.Será que Tu existes?
Jaime Portela