Sabes que eu posso
fazer os poemas de que
gostas,
em que o burburinho
das águas
te molhem os
interstícios da alma
enquanto te sirvo
colheradas de algodão doce
embebido nas palavras,
em que as castas
metáforas de amor
te façam esquecer
a areia movediça dos
mistérios
das coisas só explicadas
em dogmas.
Sabes que eu posso
fazer os poemas que te
fazem sonhar,
para que a fêmea
depravada e enclausurada
nas palavras libertárias
do teu corpo,
sempre submisso à
minha espada amotinada
e que esperas
desabotoada
sob a forma de flor de
ninfa predadora,
se liberte do afogo da
realidade
das coisas que não
precisam de explicação.
Sabes que eu posso… mas
eu não sei...
Tal como tu,
talvez eu não queira
encontrar-te agora
para não nos perdermos
depois.
Jaime Portela