Nunca mais quero ver
a tua cegueira
bem maior que a de um cego.
Foge para o além da tua carne marcada
de recortes sedentos,
veste armaduras
para que as minhas mãos tropecem
e não avassalem espaços
destroçando os teus segredos.
Arranja fortalezas só tuas
de azimutes verdadeiros,
onde a fogueira não morda as ameias
da derradeira gota de paradoxos.
Rebenta em flores de pétalas e asas
e voa em archotes de verdade,
porque a tentação
é a árvore mais alta da serra.
Foge de mim
para que não me perca loucamente
na demência da tua carne
e me embriague
no sonho da terra fértil e pronta
do teu poema feito mulher.
© Jaime Portela, Julho de 2018