Mesmo a dormir, não durmo,
grita o desassossego de vidro riscado
a rasgar o núcleo do corpo
onde existia a ventura.
Destruo e reconstruo as molas do desacerto,
lavo as dores com as marcas dos dentes
enterrados no dorso
e vou matando os vírus que crescem no teu
vazio.
Restauro o propósito,
sempre escasso,
para a travessia dos dias e da distância
que me separam de ti.
Mais de mil vezes teimando,
qual suplício de Tântalo,
recolho cacos, perfumo a dor
e crio novas pontes de concertação,
que vão caindo,
uma a uma,
pelo teu estado sem planos de salvação.
© Jaime Portela,
Fevereiro de 2024