O que me vale
é este sol que não me queima,
a bordalesa deste Lima a verdegar
e a serenata das Festas da Senhora da Agonia.
O que me estraga
é a lampreia a nadar em vinho verde,
a chieira das mordomas de peito dourado
e as caldeiradas bem regadas na Ribeira.
O que me encanta
é a chuva abençoada no verão,
a vaca das cordas que estranhamente não
escorna,
as papas e o sarrabulho limianos.
O que me salva
são as moçoilas das veigas da Areosa,
de Santa Marta, da Meadela ou de Carreço,
que dançam melhor o vira de socas
que as bailarinas do Bolshoi de meias pontas.
O que me engorda
é a broa, a sardinha e o cozido à portuguesa,
o bacalhau que já não é da nossa seca
e tudo o que é bom e que faz mal.
O que me adoça
é a torta de Viana em qualquer lado,
as Bolas de Berlim do Natário
e o pão de ló que o Jorge Amado amava.
O que me enleva
é este Minho sempre verde
no vira que não vira na amizade
e já não vira varapaus às bordoadas.
O que me dói
é este mar que é um cemitério
de pescadores que não voltam
deixando órfãos e viúvas sem amparo na Ribeira.
O que me alegra
é o canto aguerrido ao desafio
de Barreiros e Canários
que abundam neste vale à concertina.
O que me inspira
é o pegar das palavras pelos cornos
mesmo ditas sem capa nem espada
sem trompetes nem passo dobles
das noites de tertúlia no Taurino.
© Jaime Portela, Setembro de 2024