As tuas garras
sempre temeram os desígnios predatórios
que a juba leonina dos meus passos te ditava.
Contudo, o meu olhar mascarado de felino
apenas procurava o teu rasto
[de odores de leoa impregnado]
e lamber as feridas que açoitavam o teu rosto.
Apesar disso,
viajámos na direção oposta do disfarce e,
sem um arranhão,
fomos abrindo gargantas e rios
na serrania de espinhos do teu dorso,
que ainda sangrava das travessias de brumas.
Sorvemos ao sol
o fel de opressões envelhecidas,
refreámos poemas
em rimas que tememos entoar
e comemos o choro amanteigado
em forma de bolo com velas
a adocicar o grito que a tua garganta calava.
Ainda ferida,
continuas leoa briosa do teu território,
mas deixas-me entrar
sem mostrares as tuas garras:
cortaste-as e pintaste-as, porque acreditas
que o meu cheiro é miscível com o teu.