Em mim, enraizada de vez,
é acesa a mistura de água e fogo,
sou um ténue fio de água
ou um rio desbragado,
chama delgada ou fértil labareda.
E a terra que me escorre dos dedos
nem sempre quebra os excessos
ou as carências,
porque a humidade aquecida no ar
nunca é imparcial.
Incapaz de evitar a paixão
à tua presença,
acendo os círios no sangue
e, de tão tangível, sou a saudade
que se vê na tua ausência.
Se me abraças, sei que de mim
fazes certezas nos enredos do tempo,
e é por isso que somos capazes
de soterrar o brilho quente e húmido
de todas as dúvidas.
© Jaime
Portela, Abril de 2023