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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O seu olhar [243]



O seu olhar
é prenúncio de um mar
sem ondas
na enseada que se abre
à desejada e leda nau
que se aproxime.

De veludo
serão as suas ancas
e outras mãos
não se arrogam como suas
se não a assaltam
para que suas sejam todas.

E de seda menina
será a sua rosa
quando de orvalho embebida,
onde as bocas se podem saciar
se a língua se amotina
ao sabê-la embevecida.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

No tempo [242]



No tempo
em que o teu corpo tem,
insaciado,
a sede profunda na ideia,
é no tacto e na seiva
que se doa a sua essência.
É um tempo teu,
vivido de arritmias sem esperas,
como se fosses um peixe
fora da água,
que te sacode
quando te deitas no meu
e gozas, comigo,
na cachoeira da frágua.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Nos seus olhos castanhos [241]



Nos seus olhos castanhos
há rubis, que podem ser vermelhos,
verdes ou azuis,
num desabrochar de chão em frutos
quando tocam os meus.

É de flores
o perfume líquido a crescer
nos seus passos de pés descalços
ao compasso de uma dança de carícias
com as asas dos beijos desfolhados.

São fartas as bandeiras
que em mim se podem desfraldar
ao vento dos seus lábios,
para com elas agrupar os cubos dos puzzles
dos verdadeiros desenhos da vida.

Mas é na rosa vermelha
e nos pedaços exatos da alma
que sinto a vertigem do abismo de rubis,
felizmente de algodão.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Pondera [240]




Pondera no querer
que há impresso no teu corpo
e te liberta,
rosa orvalhada e impaciente
pela abelha em si pousada
e crente no seu pólen.

Pondera no desejo
que a carne pulsante imprime em fogo
que toca e cora pétalas
e quão inútil é negar
a mentira como um coice
que te acorda ou te adormece.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A tua voz [239]





A tua voz
tem a periferia do teu corpo,
tem a imagem
que sussurra inflamação
nos meus sentidos.

A tua voz
tem melodia,
uma donzela que me devora
até fazer de mim
o que te deixa sem ela.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Não precisas de esquecer [238]



Não precisas de esquecer
as tuas normas
para que te possas saciar
com as desordens
que surgem por dentro perfiladas
e crescem em arroubos
ao beijares de perto o desejo.

Não precisas de esquecer
o teu carácter
para que possas vestir o prazer
com um manto cristalino
de sussurros invencíveis
que do querer vais libertando
e te alucinam na apoteose do gozo.

Não precisas de esquecer
a tua honra
para que alguém entre mansamente
e saia com a mente serenada
na porta entreaberta
com o orvalho do desejo
a gritar ao mesmo tempo que tu.


© Jaime Portela, Setembro de 2019


segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Pássaros com asas de luz [237]

(poema dedicado aos meus netos)



É vossa
a primavera que não para de crescer,
enquanto as andorinhas
me deixam e apenas ressurgem
quando tento colher os frutos do vosso pomar.

São vossos
os olhos do tempo depois do meu tempo,
tal como o silêncio noturno
do estrondo dos dias será o som da madrugada
quando o sono se transformar
numa invernosa batalha perdida.

São vossos
o leito e as margens do rio de primaveras
enquanto a alma vos crescer dos olhos
e seguirdes pássaros com asas de luz
com o mundo dentro das mãos.




© Jaime Portela, Setembro de 2019