Passei ao lado
das florestas de embondeiros,
das vastidões de capim
e da negra irritação dos indígenas,
tal como da brancura do medo às catanas
e aos relâmpagos da razão capital.
Involuntário,
devolvi à nascente o esplendor maternal
das noites de paz,
que só terminavam com o café matinal
a inundar a urgência de apanhar o comboio
em andamento totalitário,
de maquinistas com o poder único
[mas de faúlhas ingénuas…]
de apitarem amordaçados pelo regime.
O vapor,
escuro e ruidoso,
foi-se tornando uma lembrança
de bancos de pau e carvão,
mas não fugi do berço
onde, em liberdade, a palavra primitiva
é a manteiga do motivo
ou o sal da ideia,
a procedência que nos faz reproduzir
ou escorregar
na língua do sonho.
Até que cheguei aqui
[já global…],
onde as asas das borboletas,
russas, chinesas ou norte coreanas,
provocam tempestades totalitárias,
onde já não podemos fugir à irritação
de outros indígenas, sem embondeiros,
sem acácias
e sem a razão,
mas com a força das armas.
© Jaime
Portela, Outubro de 2022