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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Liberdade [261]




Liberdade,
mesmo com asas de poeta
não a tenho inteiramente,
pois quase ninguém ma consente.
Mas não é por isso
que a minha atrevida persistência
deixará de tentar despedaçar,
elo por elo,
as amarras da cadeia que me prende.
Liberdade,
não a tenho inteiramente,
mas ela resiste viva no sangue
a circular na utopia
de agarrar uma estrela supernova
que ainda não seja cadente.


© Jaime Portela, Janeiro de 2020


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Inacabado [260]




Movo-me
na raia de baldios proibidos.
Viajo
pelos atalhos decalcados pelo meu ser.
Construo-me
em cada pedra que me informa
o que de mim
perdura vivo ou arruinado.
Abraço
qualquer descoberta apaixonado,
saboreando
o que amanhece nos começos
e percebo, então,
que ainda estou inacabado.


© Jaime Portela, Janeiro de 2020


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Nomes nus [259]




Nos teus lábios,
o canto do meu nome decorado em verbos,
bordados lusos no recato das nossas línguas
de passarinhos que se aconchegam,
construindo os ninhos
para as nossas fomes de trovas.

Em rimas de silêncios, só meus,
o teu nome venerado
em retratos de verdade iguais aos teus,
inteiros no grafismo em que me empenho,
assinatura perene de amanhãs absolutas.

Livre nas monções de afecto,
murmuro o teu nome,
clareando de mil cores
as tintas dos meus dias cinzentos.
Nomes nus, os nossos,
na limpidez de leitos de areias
vestidos de certezas que não se molham
nas vontades alheias.


© Jaime Portela, Janeiro de 2020


quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Há um povo a morrer [258]



Nas insónias,
contam-se os carneiros
que saltam a sebe
sem jamais ter um rebanho do lado de cá.
No sono,
a vida é distorcida
por sonhos tão esquisitos
que, por vezes,
acordamos cobertos de suores.
Mas, bem pior,
é o que se passa de dia:
na sua noite de anos feita de angústias,
a sofrer de insónias e de sonhos esquisitos,
há um povo a morrer
nas listas de espera da vida,
pacificamente alinhado
por ordem inversa da sua riqueza.


© Jaime Portela, Janeiro de 2020


quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Não sei o que vi nos teus olhos [257]




Não sei o que vi nos teus olhos,
se o vento da paixão alucinada
ou a brisa de um desejo desmedido.
Sei que os teus beijos me derrubam
e me desmancham os gestos
nos sorrisos de mil faces do teu corpo.
E que,
nos braços de todos os teus abraços,
os meus olhos se incendeiam em desejos
no fogo preso do encanto.
E entonteço na abundância
do éter de estrelas giratórias
que me embriagam ao beber,
dos teus olhos, os rios sem margens
de um fervor com torrentes de paixão.


© Jaime Portela, Janeiro de 2020