Translater

quinta-feira, 25 de julho de 2019

O fogo-de-santelmo




Nas dobras dos dedos,
os montes,
os vales,
os joelhos,
despertos e dobrados.

O rio do teu mar
a provocar um desnorte
de naus
rendidas às carícias
das ondas do teu cheiro,
que me vara.

O fogo-de-santelmo
a aproximar-se
e nós a desejá-lo,
a puxá-lo,
a adiá-lo,
a gozá-lo na fronteira.



quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vivamos




A seda indiscreta não recata,
acicata a ânsia da procura do que vejo
e já beijo
sob esse manto descartável
a desamparar o teu corpo.
Ao roupão,
morto por voar,
as minhas mãos dão-lhe as asas
para que libertem a alvorada do sentir
e toda a sede rubra do teu ventre.
Nos suspiros,
desencarnados ais na garganta.
Nos braços e nas pernas,
o desejo que os quebranta.
Vivamos,
no universo que criámos só para nós
até desaguarmos
em oásis de veludo incontornáveis
a reluzir chamativos,
somos água e pouco mais,
às voltas.



quinta-feira, 11 de julho de 2019

O sorriso dos teus olhos na lapela




As flores do verde maio,
ao tocar nesse teu maduro violino,
não mais terão sombra
na sinfonia de cores da nossa porta.
Na boca,
terás uma rosa à janela da alegria
e eu o sorriso dos teus olhos na lapela.
No rosto, a fertilidade
da vertigem das alturas será tua
e o trinado limiano do teu corpo
a corrente do meu rio de lembranças.
Até que tudo seja pó,
serão as plantas vicejadas pelo teu canto
a suster a minha entrega
de raízes em ti firmes,
nutridas pela chuva de flores e pólen
a cair do telhado
em permanente construção.



quinta-feira, 4 de julho de 2019

Na carícia repartida a quatro mãos




Na carícia repartida a quatro mãos
o cabelo renuncia ao penteado
e o vento afasta o rumo da palavra.

No denso gosto da luxúria do querer
pode rasgar-se a cortina
da prova da janela nunca aberta.

E é a espada e o sim que se entrelaçam
para que a pele se dobre e se atordoe,
para que a nascente
brote e morra, engolida e sequestrada.

É o insano e primevo beber
da loucura líquida
no zénite da sua matriz mais sólida.