Translater

quinta-feira, 25 de julho de 2019

O fogo-de-santelmo [234]




Nas dobras dos dedos,
os montes,
os vales,
os joelhos,
despertos e dobrados.

O rio do teu mar
a provocar um desnorte
de naus
rendidas às carícias
das ondas do teu cheiro,
que me vara.

O fogo-de-santelmo
a aproximar-se
e nós a desejá-lo,
a puxá-lo,
a adiá-lo,
a gozá-lo na fronteira.


© Jaime Portela, Julho de 2019


quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vivamos [233]




A seda indiscreta não recata,
acicata a ânsia da procura do que vejo
e já beijo
sob esse manto descartável
a desamparar o teu corpo.
Ao roupão,
morto por voar,
as minhas mãos dão-lhe as asas
para que libertem a alvorada do sentir
e toda a sede rubra do teu ventre.
Nos suspiros,
desencarnados ais na garganta.
Nos braços e nas pernas,
o desejo que os quebranta.
Vivamos,
no universo que criámos só para nós
até desaguarmos
em oásis de veludo incontornáveis
a reluzir chamativos,
somos água e pouco mais,
às voltas.



© Jaime Portela, Julho de 2019


quinta-feira, 11 de julho de 2019

O sorriso dos teus olhos na lapela [232]




As flores do verde maio,
ao tocar nesse teu maduro violino,
não mais terão sombra
na sinfonia de cores da nossa porta.
Na boca,
terás uma rosa à janela da alegria
e eu o sorriso dos teus olhos na lapela.
No rosto, a fertilidade
da vertigem das alturas será tua
e o trinado limiano do teu corpo
a corrente do meu rio de lembranças.
Até que tudo seja pó,
serão as plantas vicejadas pelo teu canto
a suster a minha entrega
de raízes em ti firmes,
nutridas pela chuva de flores e pólen
a cair do telhado
em permanente construção.


© Jaime Portela, Julho de 2019


quinta-feira, 4 de julho de 2019

Na carícia repartida a quatro mãos [231]




Na carícia repartida a quatro mãos
o cabelo renuncia ao penteado
e o vento afasta o rumo da palavra.

No denso gosto da luxúria do querer
pode rasgar-se a cortina
da prova da janela nunca aberta.

E é a espada e o sim que se entrelaçam
para que a pele se dobre e se atordoe,
para que a nascente
brote e morra, engolida e sequestrada.

É o insano e primevo beber
da loucura líquida
no zénite da sua matriz mais sólida.


© Jaime Portela, Julho de 2019