O rio
desperto no primeiro cigarro
alimenta
a teia em que me envolvo, deitado,
como
se estivesse à frente de um amigo íntimo.
Arbitro,
nas pequenas nuvens de fumo,
atalhos
possíveis às avenidas dos sonhos.
Delirante,
só acordo estando certo que,
continuando
deitado, poderia dormir
sem
as asas que deformariam o silêncio
e
que impediriam que os meus dedos
continuassem
a afagar a pele
da
tua alma despida de esperas
a
traçar teias de arrepios no teu pensamento.
Levantei-me,
mesmo
vendo que caminhamos às cegas
num
labirinto de desejos.
Mesmo
sentindo que nunca chegaremos
a um
lugar só nosso, semeado de nós.
Mesmo
sabendo que dessas sementes
só
brotarão flores já serôdias
e
que tenhamos de podar as nossas raízes.
Levantei-me.
Voltei para ti. Porque te sei
com
rios de sede e sonhos de terra.
© Jaime Portela, Julho de 2021