Daqui
a mil anos,
o
que pensaremos de nós?
Veremos
mais o que vivemos
ou o
fechar de olhos
aos amores
que nos bateram à porta?
O
tempo que transpirámos
a
construir e a destroçar
ou o
que perdemos a hesitar?
Daqui
a mil anos,
ainda
será visível o efeito
das
nossas asas de borboleta?
Sentiremos
vestígios
do
impulso do nosso dente
na
roda da engrenagem mandante?
Sentiremos,
finalmente,
o
que agora não sentimos?
Veremos
a vida que não vivemos?
Daqui
a mil anos,
do
que falaremos nós?
Dos
deuses que não existem
ou
dos demónios que carregámos em vida?
Da
beleza da alma
ou
da intemperança do corpo?
De
quem falaremos?
Dos
bons e dos maus? Ou dos fracos?
Daqui
a mil anos, vem ter comigo,
porque
agora não te sei responder.
E
hoje, apenas sei
que
há uma verdade escondida
em
cada coisa que vejo.
© Jaime Portela, Junho de 2021