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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Alterações climáticas [631]

 


Curvado sobre a terra

a fazer regos para que a água passe

e regue o milheiral na perfeição,

cavo com o jeito dos meus antepassados.

Ao mesmo tempo,

desço um rio bem largo e caudaloso

dentro de um barco a remos

evitando dragões que dormem nas margens.

E eis que salta uma rã aos meus pés

e um dragão cospe fogo

por cima das águas turvas do rio.

O susto e o desassossego misturam-se,

salto para o rego seguinte,

que ainda está seco,

e remo depressa para fugir ao dragão.

As duas coisas são claras como água

de uma fonte cristalina:

a terra molhada da enxurrada

que os meus pés descalços pisam

e a quilha do barco em terra seca

onde os remos proclamam

uma contínua chiadeira por falta de óleo.

Olho para trás e vejo que o milho

está a ser queimado pelos dragões.

O convés está cheio de gente,

a assistir, insegura e curiosa,

enquanto come pipocas e bebe coca-cola

a olhar para o espetáculo da fumarada.

 

 

© Jaime Portela, Setembro de 2025


35 comentários:

chica disse...

Cenário bem descrito mostrando o que há de um e de outro lado... Linda poesia!
abraços praianos, feliz setembro! chica

brancas nuvens negras disse...

A indiferença é um mal dos nossos dias. Onde nos levará?
Boa semana.
Um abraço.

silvia de angelis disse...

Estro e spiccata fantasia, in questa interessante, e notevole lirica, molto apprezzata.
Un caro saluto

Lucimar da Silva Moreira disse...

A onde vamos sempre terá algo pra nos impedir, nos dá medo, sua poesia refletiu isso, Jaime boa semana ótimo mês de Setembro abraços.

Daniela Silva disse...

Este post faz pensar sobre o impacto das nossas ações no planeta 🌱 é importante refletir e cuidar do mundo à nossa volta. 🌍

Com amor,
Daniela Silva 🦋
alma-leveblog.blogspot.com -- espero pela tua visita no meu blog

Mário Margaride disse...

A grande questão fundamental, é que ainda muita gente incluindo muitos governantes que negam as alterações climáticas.
E, isso é o grande motor para o desrespeito pela natureza e a sua consequente destruição.
Excelente poema, amigo Jaime.

Gostei bastante.

Abraço de amizade e boa semana.

Mário Margaride

Graça Pires disse...

As inundações, os fogos os temporais a dizerem-nos que as alterações climáticas existem e ainda há que as negue. Gostei do seu poema, meu Amigo Jaime.
Senti saudades.
Um beijo.

Jovem Jornalista disse...

Poesia incrível e marcante. Gostei muito.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE INVERNO do dia 04 de agosto à 08 de setembro, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia

Marta Vinhais disse...

A indiferença continua a imperar....
Beijos e abraços
Marta

Teresa Isabel SIlva disse...

Muito bonito!
Aproveito para desejar um bom mês de setembro!

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Bjxxx,
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Tais Luso de Carvalho disse...

Não acredito que os humanos mudem, o lucro impede!
É a tal questão, "eles" só pensam neles, e o resto...é o resto.
Um feliz setembro, amigo Jaime!
Beijo.

Momentos disse...

Hermoso poema Jaime
Besos

Adriana Helena disse...

Olá Jaime, muito obrigada por nos trazer versos tão perfeitos e bem feitos..
É compreensível o nosso desagrado com o que esteja acontecendo com a Terra e se assim continuar, não teremos mais "casa" para morar e isso será em breve...
E as pessoas nada fazem, não se movem para conter o afundamento mundial da natureza...Fico mesmo horrorizada!! E isso está em todos os lugares...
Seu poema é um alerto amigo, você está fazendo a sua parte!! Parabéns!!
Abraços e um ótimo ingresso em setembro!! :))))

Eduardo Medeiros disse...

Jaime, você construiu uma bela e forte metáfora do que queima e que inunda a terra. O dragão é voraz, já diz uma música brasileira.

Eros de Passagem disse...

Esta roupa que você criou cobre com perfeição a indiferença humana às alterações climáticas.
Um abraço, caro poeta!

la plume d'Eden disse...


Boa noite, caro poeta.
Seu poema mistura poderosamente gestos ancestrais e inspiração mítica: cavar a terra se torna uma batalha contra dragões. A imagem final, onde assistimos como espectadores distraídos, impressiona por sua modernidade e crítica sutil. Poderosa e oportuna.

É magnífica.

Tomei a liberdade de me inscrever em sua lista de assinantes.

Respeitosamente,
Veronique

ematejoca disse...

A obra mescla labuta rural, perigo mítico e voyeurismo contemporâneo: a tensão entre trabalho cuidadoso e ameaça imaginária, onde a terra fértil convive com fogo destruidor, e o olhar alheio assiste sem intervir.
Boa noite 😘

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de Paz, amigo Jaime!
Quem sente o estrago da natureza, preza pela sua manutenção.
Gostei muito da sua inteligente poesia
Tenha um setembro abençoado!
Abraços fraternos

J.P. Alexander disse...

Profundo poema de una realidad tan preocupante. Te mando un beso.

Emília Pinto disse...

De " alegrias e tristezas " se constrói a nossa vida e é com grande dor que vemos o nosso país ser fustigado por ventos fortíssimos, atiçando o fogo, criminosamente lançado nas nossas florestas. Um verão que está a terminar, com dias extremamente quentes e outros com um friozinho nada usual: anda tudo muito estranho, no que respeita ao clima e, se há muitos que não acreditam nas alterações climáticas, o motivo é, de certeza, por questões financeiras, Amigo! O petróleo dá muito dinheiro, a indústria do armamento é poderosa e as guerras são um grande inimigo deste nosso planeta. Há necessidade de mais construções de luxo, de resorts para férias dos senhores do mundo, de pastagens para criação de gado e, então há que derrubar árvoreses sendo estas substituídas por cimento" " as águas não têm por onde correr e os rios se vingam alagando ruas, inundando casas, levando tudo o que encontram pela frente, por que nada fazem os senhores do mundo? Porque essa preocupação lhes mexe.nos bolso e no bolso também de muita gente que, apesar de não terem tanto poder, têm os seus negócios que não querem perder. É assim vai o mundo, Amigo Jaime...muitas vezes me pergunto " por que anda o homem preocupado com os outros planeta, gastando milhões e milhões, se não é capaz de cuidar do nosso planeta azul? Creio que, de azul, já não tem nada...está mais para uma cor acinzentada...quase preto.
Amigo, estou de volta e espero que esteja tudo bem contigo e com os teus. Façamos a nossa parte na protecção do nosso planeta,
Beijinhos
Emília 🌻

Lucia disse...

Olá caro Jaime.
Um belo poema amigo poeta.
Sim, tudo está se queimando e se assisti como seu fosse um filme.
E o planeta chora.
Suave seja a sua semana.
Beijo!

Pedro Coimbra disse...

E ainda há aqueles que recusam ver o fogo.
Mesmo quando lhes queima os pés.
Abraço, boa semana

TORO SALVAJE disse...

Qué herencia climática tan horrorosa vamos a dejar a las siguientes generaciones.
Gran poema y muy necesario.
Te felicito.
Saludos.

Maria Rodrigues disse...

Infelizmente o tempo cada vez está mais instável, ocorrendo chuvas torrenciais e terríveis secas e incêndios. A natureza manifesta-se mas o homem continua sem ouvir.
Um poema sublime!
Beijos e boa semana

Os olhares da Gracinha! disse...

Um alerta poético 👏😘

Sonya Azevedo disse...

Bom dia, Jaime, belo poema com riquíssimas metáforas. Meio devagar por aqui, resolvendo um problema de plágio e cópia de seis sonetos meus no Recanto das letras. Mais cabelos brancos. Muita luz e paz. Um setembro primoroso e vitorioso. Abs

Ailime disse...

Boa tarde Jaime,
Um poema magnífico que aborda um tema muito atual.
Perante factos consumados a indiferença de quem parece ignorar (ou quer ignorar), o que se passa no País real.
Beijinhos e boa semana.
Emília

la plume d'Eden disse...

Obrigada, Jaime, por visitar minha página.
Sua passagem é como uma estrela cadente
deixando um brilho suave em minhas palavras.

Tenha um bom dia.
Aguardo ansiosamente seu contato.
Veronique

AMALIA disse...

Muy grato volver a disfrutar de tus bellos poemas.
Feliz mes de Septiembre.
Un abrazo.

Olavo Marques disse...

Olá talentoso Jaime!

Enormes metáforas para as alterações climáticas. Na parte final, com as pessoas a assistir distraídas, é uma estupenda ironia e muito atual.

Abraços! 🤗

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Que poema forte e imagético!
Ele mistura o trabalho ancestral da terra com visões fantásticas — dragões, rios caudalosos, barcos — criando uma metáfora poderosa sobre as alterações climáticas. Os dragões que queimam o milho lembram as forças destrutivas que assolam a natureza, enquanto o barco em terra seca simboliza o desajuste e a falta de harmonia entre homem e ambiente.

O final é irônico e crítico: pessoas assistindo passivamente, comendo pipocas, como se o drama do mundo fosse apenas espetáculo. É um texto que une lirismo, denúncia e um toque surrealista para provocar reflexão profunda.

Andre Mansim disse...

Olá meu amigo poeta!
Seu texto vem cheio de críticas muito sólidas.
Muito bom.
Mas sabe, uma coisa que me intriga é quando batemos um recorde de temperatura no dia e a notícia vem assim:
Hoje foi o dia mais quente desde 4/9/1983.
Aí eu fico pensando: Então em 1983 teve um dia tão quente que todos os outros até hoje, foram menos quentes????

É engraçado né?

Um abraço.

lis disse...

Oi Jaime
Bom demais ! temos que cuidar porque a corrente leva depressa e cada remada é um pacto com desconhecidos...
Também gosta de uma coca gelada, Jaime ? rs
mandando um beijo

Olinda Melo disse...

Olá, Jaime
O seu poema remete-me para o maravilhoso com dragões lançando fogo, e ainda para o antanho em que se cavava a
terra, os bois puxavam o arado... Mas isso já quase não
existe, não é verdade? A sucessão dos dias e das noites,
das estações do ano, das sementeiras, da queda das folhas,
o tempo anda baralhado, culpa nossa. Da noite para o dia
são grandes tempestades que arrasam tudo.
Um poema excelente que reflecte sobre o que se passa nos nossos dias.
Abraço, amigo.
Olinda

Juvenal Nunes disse...

É, com certeza, o trauma dos incêndios. Um flagelo trágico , que ainda não fo ultrapassado.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes