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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Do nosso muro de Berlim [195]



Quando partimos,
a solidão fica maior do que pensávamos
e sofremos com a saudade
sem a sabermos pintar com palavras.
Apenas sentimos que ela mora trasvestida
no silêncio do corpo, golpeado de passados
que se avivam, que revolvemos nas insónias
pejadas de perguntas idiotas.

Mas sabemos que, no regresso, ouviremos
estrondos de grilhetas rebentadas
na libertação do escravo
que prendemos dentro de nós.
E que, na reconstrução, voltamos a ser
pedra sobre pedra, matando a sede,
destruindo fraquezas
infiltradas nos ossos das convicções.

E que, ao colocarmos flores
na barricada que nos protege,
somos de novo czares ou czarinas
sem proletariado ou histeria nazi.
Renascemos com a queda
do nosso muro de Berlim e, da ausência,
não haverá mais arame farpado na mente.


© Jaime Portela, Outubro de 2018


35 comentários:

Larissa Santos disse...

Boa tarde. Como sempre, com mais uma fantástico poema:))

Do nosso amigo Gil António, que diz: Que a minha cama não fique tão vazia

Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira

Sandra May disse...

Uma analogia muito bem construída. Versos lindos! Liberdade para a nossa mente, que haja, antes da última partida.
Um abraço brasileiro, Jaime!

Célia disse...

Como é maravilhoso quando derrubamos nossos muros e resolvemos ter um novo olhar para a vida em que a união, o respeito e a harmonia imperam! Poema excelente para reflexão! Obrigada!
Abraço.

Marta Vinhais disse...

Espera-se... e depois renasce-se...
Derrubando, construindo... colorindo o negro...
Como sempre, brilhante...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Lua Azul disse...

Vivemos presos em nós e, por vezes, nem nos damos conta disso: a libertação é o anseio: por vezes vem só com a morte.
Um bom final de dia.

Cidália Ferreira disse...

Poema muito bom!! Amei!!

Deambulando noutros horizontes.
Beijos - Boa Noite!

Os olhares da Gracinha! disse...

É bom que na nossa mente não haja arame farpado mas muita poesia!!! Bj

Andreia Morais disse...

Repito-me sempre, mas a sua poesia é sublime!
Todo o poema está fantástico, mas adorei, particularmente, os três últimos versos

r: É uma leitura que se faz bem :)
Obrigada e igualmente*

Pedro Coimbra disse...

Que os muros sejam banidos de uma vez por todas.
Aquele abraço, bfds

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Maravilhoso meu caro amigo, muito bom!
Abraço

Olhar D'ouro - bLoG
Olhar D'ouro - fAcEbOOk
Olhar D'ouro – yOutUbE * Visitem & subcrevam

manuela barroso disse...

No muro que sempre nos aparta, aprecio particularmente essa saudade misturada com a solidão , numa viagem onde se espera às vezes um esquecimento .
Mas quando fugimos da “dor” sempre a levamos no bolso .
Ótimo , Jaime
Beijinho 😚

Graça Pires disse...

"na reconstrução, voltamos a ser
pedra sobre pedra, matando a sede,
destruindo fraquezas
infiltradas nos ossos das convicções."
Magnífico, Jaime!
Um bom fim de semana.
Um beijo.

Fá menor disse...

Há sempre alguma solidão e alguma saudade escondida algures no peito que se ergue, tantas vezes, em muro. Outras vezes, muralha defensiva.

Bom fim-de-semana, amigo!

Beijos.

Teresa Almeida disse...

Com extremismos se arrasam países. E um arreio percorre o teu poema. À poesia a sublime missão de derrubar os muros da prepotência e do poder absoluto.

Beijo, amigo Jaime.

Tais Luso de Carvalho disse...

Muito bonito, Jaime, por muitas vezes, e sem percebermos, construímos muralhas intransponíveis e não sabemos dizer nada das consequências, do isolamento que levantamos. Deixemos nossos muros baixinhos, apenas para delimitar nosso espaço, para não escancarar muito nosso interior, para ao menos termos uma propriedade privada. Mas jamais levantar muros altos, intransponíveis. Isso afasta a todos.

Beijo, amigo Jaime, um bom fim de semana.

Luísa Fernandes disse...

https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
Olá amigo Jaime!
Peço desculpa pela demora, mas fui dar uma volta de cruzeiro pela Europa, que me deixou bastante mais leve depois destes dias de descanso.
Quanto aos Muros do Passado, que fiquem bem longe da gente e que outros jamais regressem. Gostei imensamente.
Obrigada amigo Jaime, pela sua visita e prometo que estarei de volta ao meu poetizar.
Beijinho e bom fim de semana.
Luisa

A Nossa Travessa disse...

Meu caro Jaimamigo

Regressados do cruzeiro pelo Mediterrâneo eis-me de volta à blogosfera da qual apesar da ausência ter sido pequena já tinha saudades…

A volta decorreu lindamente tudo coreu muito bem, exceptuando o catering que para a Raquel e para mim foi uma… merda o que deve ter sido uma raridade pois não ouvimos queixas dos restantes 3.879 passageiros. Mas também tenho de dizer que não fiz nenhum inquérito…

Deu para descansar, conviver com novos amigos e sobretudo para ler. Pela minha parte em nove dias “devorei” quatro livros o que me parece uma média aceitável. No final, chegámos mais cedo a Lisboa pois fugimos ao Leslie, viva o comandante Giuliani Bossi!

Quanto ao poema, já me canso de tanto louvar, mas é indispensável fazê-lo. Num momento em que a ansiedade e a angústia são tremendas por ver o que se está passando no Brasil (que é nosso filho e fala a mesma língua) sabe a mel ler que não haverá mais arame farpado na mente...

Um abração deste teu amigo e admirador
Henrique, o Leãozão🦁


Franziska disse...

Mas sabemos que, no regresso, ouviremos
estrondos de grilhetas rebentadas
na libertação do escravo
que prendemos dentro de nós.
E que, na reconstrução, voltamos a ser
pedra sobre pedra, matando a sede,
destruindo fraquezas
infiltradas nos ossos das convicções.

Es un testimonio de una gran verdad de nuestras convicciones podemos volver a reconstruirnos y alcanzar la libertad. Es un grann poema. Ha sido un placer poder leerlo.

Un abrazo.

Manuel Veiga disse...

há muros para todos os gostos, amigo Jaime.
o teu poema uma belíssima e sólida construção literária.

abraço, meu amigo

luar perdido disse...

Que caiam todos os muros de Berlim,ou qualquer outro,não pode haver nem muros nem barreiras entre corações que falam a mesma linguagem.
Que todos os arames farpados sejam feitos de flores e sorrisos para que não sejam necessárias barricadas.

Belíssimo poema, amigo Jaime.
Bom fim de semana.
Beijo de luar

Ana Freire disse...

Um belíssimo poema... que subtilmente, nos faz pensar, na onde de extremismo, que está irrompendo, em alguns países... e que talvez ainda não se tenha aprendido o suficiente com os erros do passado... a ponto, de tantos estarem dispostos a repeti-los no presente...
O tempo dirá... se outro extremista, amanhã não será eleito... do outro lado do Atlântico...
Finalmente de volta, depois de uma pausa mais alargada... mas já com imensas saudades, de acompanhar os meus cantinhos, de eleição!...
Deixo um beijinho e votos de um bom domingo, Jaime... e amanhã, estarei de novo por aqui, apreciando mais alguns posts, que ultimamente se me escaparam...
Ana

Ailime disse...

Bom dia Jaime,
Os meus Parabéns por este poema magnífico repleto de intensidade e muito profundo.
Que as grilhetas e o arame farpado sejam para sempre erradicados do nosso ser para voltarmos a ganhar asas
Beijinhos e bom domingo.
Ailime
Já tenho novidades...

SOL da Esteva disse...

Muros e arames são fontes de separação. O Amor, esse é livre e ultrapassa ou derruba todos os obstáculos com que se depara.



Abraço
SOL

Majo Dutra disse...

Olá, Jaime.
Convalescendo da gripe...

Saber que no regresso se conquista
a liberdade plena, é importante
numa partida triste...
Gostei do poema.

Abraço, Amigo.
~~~

Betonicou disse...

Bom dia Jaime! Gostei imenso desse texto tão profundo em reflexões. Construímos muros ao invés de jardins , e nos trancamos às vezes por inteiro e recolhemos nossas asas. Perfeito , meu caro poeta. Grande abraço.

Ulisses de Carvalho disse...

Belo poema, Jaime, há verdades subjetivas nele, mas também objetivas, que servem para todos, inclusive para mim. Um abraço.

By Me disse...

Por vezes, o desespero leva-nos a fugir de uma fera e meter-se na boca de outra fera ainda mais fera. A cegueira é imensa, o fumo denso, soprado durante muito tempo na direção errada, provocou demasiados estragos, confusão, desordem, caos... muros? O muro separa, divide, limita a comunicação. Vejamos então um pormenor, no meu quotidiano vejo pessoas erguerem muros para não se verem umas às outras. Mesmo sabendo que do outro lado há solidão, há doença, há necessidades, e continuam sem demonstrar qualquer tipo de remorso ou arrependimento. É mais fácil ver os muros que outros fazem, do que encarar os muros que erguemos dentro de nós, as múltiplas razões que arranjamos para justificar o desejo de permanecer de costas voltadas!
A política está em crise e em decadência, precisa de se reformular e já tarda. Governar contra o povo e julgar que não haverá consequências é um tremendo engano. A resposta está dada da pior forma possível.

Belíssimo poema, grandes preocupações ! Gostei muito!
Boa semana JP
Beijo

Pedro Luso de Carvalho disse...

Amigo Jaime, gostei muito deste belo poema com imagens poéticas que nos remetem a conflitos que possamos ter como nos remete também a um fato histórico de magna importância, qual seja a queda do Muro de Berlim, que, pelo menos em mim ficou marcada indelevelmente.
Parabéns ao talentoso poeta.
Um grande abraço.
Pedro

Mariazita disse...

Há momentos em que é necessário cortar as amarras para poder recomeçar...
E o recomeço pode significar melhoria, e fazer-nos ouvir "os sininhos a tocar".
Excelente texto poético.

PS - RESPONDI AO TEU COMENTÁRIO NA TUA POSTAGEM ANTERIOR.

Feliz Terça-feira e uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

SOLIDARIEDADE disse...

Anteparos, barreiras, muros, ideológicos ou não,uma geopolítica do amor e da saudade.
Abraços.

Ana Tapadas disse...

Muito belo, especialmente na sua mensagem de esperança...

Beijo

Quase Cinderela disse...

Que poema maravilhoso!
Cheio de sabedoria e esperança.
Muito obrigada
Beijinho

Caleidoscópio de Idéias disse...

Olá Jaime!
Amei a metáfora poética e o fim é simplesmente fantástico!
Estas desconstruções reconstruindo um algo novo são realmente muito revolucionárias e poéticas.
Abraços!

teresa dias disse...

Parabéns, poeta, por este EXTRAORDINÁRIO poema.
Jaime, o que eu perdi por ter andado arredada daqui...
Muros, só de versos feitos.
Beijo.

Agostinho disse...

Poeta de boa lavra és tu
que cantas o milagre
a transfiguração
De escravo o cravo é
símbolo de libertação
no calor percorrendo
os corpos escorrendo
telúricamente cravados
de lava incendiados

Abraço.